O que significa ser moderado segundo a Bíblia?


Há uma espantosa dificuldade por parte de algumas pessoas em compreender o significado de alguns termos segundo o que a Bíblia diz. E a “moderação” é uma das principais dificuldades. 

A maioria das pessoas acham que “moderação” é a permissão para se “praticar um pouco” de alguma coisa que não é boa, pois se fosse boa, não precisaria de limite que a moderação impõe, então só pelo fato de não ser boa deve ser “evitada”, e não “um pouco praticada”.

Esse argumento é muito usado por alguns “cristãos” principalmente quando o assunto é bebida alcoólica. Eles unem o apelo publicitário do “beba com moderação”, com os textos bíblicos que admoestam o crente a ser moderado.

Mas é abismal a diferença entre uma coisa e outra. Enquanto o apelo diz literalmente: “Beba (pratique o que não é bom) com moderação (um pouco)”, o ser “moderado” segundo a Bíblia é: “Se não é bom, NÃO pratique”.

Óbvio que a carne dos santos moderados vai dizer: “Absurdo, isto não está na Bíblia então não pode se tornar doutrina” (Isso porque eles estão de fato muito preocupados com a doutrina bíblica).

Mas não há como contradizer as Escrituras, e segundo ela “moderação” não é endosso pra fazer “um pouco”, é alerta pra “não fazer”, pois repito, se é bom não se precisa moderar.

Pois bem, em Gálatas 5:22 ou 23 dependendo da versão, a expressão é “moderação”, “domínio próprio”, “autocontrole”, “temperança”. Estes são sinônimos possíveis às variadas versões graças à riqueza da língua portuguesa, mas no original o termo é um só, “Enkrateia”, e apesar da tradução vir com todos esses sinônimos possíveis e que não estão incorretos, mas faltou a tradução imediata do termo, ou seja, o termo “enkrateia” significa imediatamente “abstinência” (Gl 5:23; II Pe 2:6).

Quando o apóstolo Pedro se utiliza dessa expressão (II Pe 2:6), ele ativa uma reação em cadeia de virtudes a serem desenvolvidas pelo cristão genuíno. Ele diz no v.4 que “escapamos da corrupção que pela concupiscência há no mundo”, e por causa disso é dever nosso colocar toda a nossa diligência (não displicência), nessa nova condição e com isso acrescentar a nossa fidelidade a virtude, e à virtude o conhecimento (v. 5). 

Para que somos doutrinados assim pelo apóstolo Pedro? Para que por meio do conhecimento nos “abstenhamos” do que é patentemente mal. No versículo 6 ele diz para acrescentarmos ao conhecimento a “enkrateia” – abstinência. Ou seja, a partir do instante que adquirimos o conhecimento o próximo passo é fazer melhor nossas escolhas, pois se escapamos da corrupção pela concupiscência que há no mundo devemos fazer de tudo para não voltarmos àquela condição, sendo que concupiscência é o exato oposto de abstinência, enquanto aquela é fazer o que a carne quer, esta é não fazer o que a carne quer. 

Portanto, moderação segundo a Bíblia, é NÃO fazer, e não “fazer um pouco só”.

Mas ainda há outro termo usado para moderação na Bíblia que clareia ainda mais o “conhecimento”.

Na segunda carta que Paulo escreveu a Timóteo no capítulo 2 e versículo 7, ele afirma que Deus nos deu um espírito de “moderação”, e aqui o apóstolo não usou “enkrateia”, abstinência; ele usou “sophronismos”, esse termo pode significar “sensatez”, “autocontrole”, “saúde mental”, “sobriedade”, e até “agir com sabedoria”, no entanto, assim como o imediato significado de “enkrateia”, que é abstinência não foi usado, o significado imediato de “sophronismos” também não, que é “prisão”. 

Isso porque não seria de fácil entendimento ler que Deus não nos deu um espírito de temor, mas “aprisionado”. Mas não se pode negar que essa é a tradução imediata, e era isso que a igreja primitiva entendia quando lia essa carta. E o que será que Paulo quis dizer ao usar essa expressão? Talvez pelo fato de praticamente estar se despedindo de Timóteo e encerrando sua carreira, ele encoraja seu pupilo a resistir ao mais terrível ataque maligno se colocando na condição de estar “preso” (comprometido) com Cristo e perseverar até o fim. 

Inclusive, a próxima virtude que Pedro admoesta ao crente é a de ser diligente em conquistar, após a abstinência, é exatamente a perseverança (II Pe 1:6). E Paulo, com relação ao sentido de estar “preso” (convicto), para ele não havia surpresa ou estranheza nenhuma nisso, na verdade, ele folgava por conta dessa condição (II Tm 1:8; 2:9; Ef 3:1; 4:1; Fp 3:12; Cl 4:10; Fl 1:1,9).

Claro que para quem coloca café e cachaça lado a lado, como se fossem prejudiciais na mesma proporção, ou para aquele que o capítulo 31 de Provérbios é composto apenas do versículo 6 e não de 31 versículos, ou para aquele que entende que “fruto da vide” é “vinho” e não “suco de uva”, ou seja, quando se espreme a uva imediatamente sai vinho e não suco. Aliás, para estes a uva é a única fruta que não sai suco quando é espremida, afinal, para eles, absolutamente nada do que está exposto acima, será válido. Mas estarão nada mais nada menos negligenciando acrescentar a abstinência ao conhecimento, agora adquirido, caso tenham lido até o fim.


Pr Odair Filho

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